Capítulo 13 – Bonato

No final do ano de 2016 a Nomade Orquestra realizou a sua primeira turnê Européia passando pelas seguintes cidades: Coimbra (Portugal), Santiago de Compostela (Espanha), Whitstable, Bristol e Londres (Inglaterra), Sofia (Bulgária), Essen e Burghousen (Alemanha).
Após ter rodado alguns países europeus pela primeira vez na vida senti muita coisa boa, ótimas energias e um retorno magnífico em relação à nossa música.
Estava em Burghousen para fazer nosso último show dessa tour num lugar chamado B-Jazz, um bar estilo “caverninha” com um pequeno palco onde passaram vários mestres da música como Chet Baker, Count Basie, Art Blakey, Ray Brown, Dave Brubeck, Chick Corea, Buddy de Franco, Klaus Doldinger, Lou Donaldson, Maynard Ferguson, Ella Fitzferald, Fatty George, Stan Getz, Dizzy Gillespie, Dexter Gordon, Stephane Grapelly, Woody Herman, Freddy Hubbard, Barney Kessel, B.B. King, Bobby McFerrin, Gerry Mulligan, Oscar Peterson, Michel Petrucciani, Tito Puente, Buddy Rich, Horace Silver, Memphis Slim, Teddy Wilson, Cassandra Wilson, Ron Carter, entre muitos outros, pensei comigo que honra máxima seria tocar em mais um lugar consagrado como esse.
Fizemos o show, foi muito legal, casa cheia e ainda botamos o publico pra dançar. Saímos de lá com a sensação de missão cumprida.
Do outro lado da rua ficava o restaurante deles, após o show fomos jantar lá e eu estava tão eufórico de adrenalina e felicidade que decidi pedir um prato que apenas “soava bem” no cardápio… Todo mundo pediu macarrão ou algo mais comum para um brasileiro sem grana. Quando chegou meu prato dei de cara com um “monstro marinho”, nunca tinha visto nada igual, tanto que até hoje não faço idéia do que era. Só sei que fui tentar comer tinha um gosto amargo, parecia que estava mastigando um pneu, aí desisti, chamei no macarrão mesmo e aprendi uma grande lição, com comida não se brinca.
Saímos desse restaurante, e para fazer a digestão à base de ervas especiais. Decidimos subir no Castelo de Burghousen (segundo o Guinnes Word Record o maior complexo de castelos do mundo) o qual havíamos feito a visita durante o dia. Foi muito legal fazer a digestão lá, enquanto ficávamos imaginando como era na época que esse castelo havia sido construído, como seria a sensação de chegar com sangue no zóio pra invadir um castelo desse tamanho (detalhe, o castelo foi construído ao lado do Rio Salzach que faz fronteira da Alemanha com a Áustria).
Após esse role até o castelo todo mundo da banda já tava cansado e foram para os devidos aposentos enquanto eu e o André Calixto decidimos tomar uma breja em um Pub que ficava na parte de baixo do Hotel.
Assim que abrimos a porta do bar todo mundo que estava lá dentro parou de beber e conversar e ficou olhando-nos como se fôssemos E.T.s (no caso acho que éramos mesmo ali naquela ocasião). Ok, entramos no estabelecimento, caminhamos até o balcão e pedimos uma cerveja. Ao longo de nossa conversa fomos percebendo um clima hostil pois tinham uns alemães bem grandes atrás do André Calixto que não paravam de esbarrar, dar cotoveladas e pequenos empurrões nas costas dele enquanto falavam e certamente riam de nós. Sentimos isso de todo o pessoal do bar, quando a cerveja de nossas canecas se acabou, coincidentemente a música que estava rolando cessou e o bar inteiro começou a rir da nossa cara, apesar do momento tenso virei para o Calixto e disse – de duas uma, ou pedimos mais uma cerveja ou saímos fora agora. Então decidimos ficar e pedir mais uma. Nisso a bartender percebeu o clima pesado e como o Calixto já havia conversado com ela mais cedo, antes do show e também havia dado um CD da Nomade Orquestra, ela teve o bom senso de comunicar o pessoal do bar que éramos músicos brasileiros e estávamos lá em uma turnê, inclusive havíamos tocado no tão conceituado B-Jazz. Foi aí que as expressões nos rostos alemães mudaram da água para o vinho. Acabamos passando boa parte da noite fazendo amizade com esses mesmos alemães e tudo ficou tranqüilo novamente.

Viajar pelo mundo é maravilhoso, viajar pela música não tem preço!!!

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