Capítulo 9 – Calixto

Por.: André Calixto

 

A TRILHA PERFEITA

Na história de hoje, temos como protagonistas duas situações antagônicas: o azar de uma noite se transforma na sorte do dia seguinte. Assim como nas fábulas e contos zen budistas – recheados de elementos misteriosos com a finalidade de mostrar o simples – essa fábula real tem como cenário mais uma noite de show com a Nômade Orquestra. Desta vez no Centro Cultural Rio Verde. Como de costume levo minhas flautas étnicas (Nay, Bansuri , Shakuhachi e outras), todas no mesmo case para diminuir o perigo de perdê-las. Mas desta vez entre elas, estava uma Shakuhachi 2.1 ; um modelo com um tamanho maior e que não caberia junto das outras. Então resolvi levá-la fora do case.
Nesta noite havia uma festa na casa de shows. Várias apresentações garantiam a diversidade musical do evento e o camarim estava lotado de artistas/musicos! Eu tenho hábito de levar uma flauta que estou estudando, no presente, para o camarim e em algum momento poder estudar. Mas nesta noite percebi ser impossível tal “relax’’. E sendo assim, encostei minha flauta no case para não perde–la e seguimos o baile.
É sempre bom lembrar que o corpo e a mente de um artista muitas vezes saem diferente de como chegaram: cansaço , euforia, excessos de “temperos”, todos tipos de ingredientes físicos e emocionais ajudam na dispersão da madrugada . Vítima deste comportamento comum, coloco o case e a flauta no teto do carro para poder abrir a porta. Porta aberta. Primeiro ponho sax tenor, depois sax soprano e pra finalizar, pegaria o case que se encontrava no teto. Nisso, ao mesmo tempo o guitarrista Luiz Galvão acomoda sua guitarra no banco de trás e se ajeita no banco do passageiro. Enfim, seguimos.

Ao acordar recebo um telefonema do baixista Ruy Rascassi, perguntando se eu não tinha perdido nada na noite anterior. Me espanto a princípio, mas logo quero saber o motivo da pergunta, e eis que na hora me lembro da flauta esquecida no teto do cicatriz (Uno Mille 1.0 – 98 ). Uma mistura de tristeza por ter esquecido e de alegria por terem achado, me invadem ao mesmo tempo. Tipo aquela sensação que você não sabe se ri ou chora!
Com o contato da pessoa que achou minha flauta no meio fio da rua, prontamente liguei e marquei um dia para pegá-la e, para minha surpresa, era uma pessoa que estava no show. O produtor executivo Rodrigo Notari, da Mova filmes – que estava produzindo um documentário dos 35 anos de ordenação zen budista da Monja Coen – e procurava alguém para fazer a trilha sonora. É exatamente neste ponto que tudo se encaixava: perder e depois achar, uma flauta que por sua origem à séculos, é utilizada por Monges Zen budistas na prática do Suizen (iluminação através do sopro)! Não é todo dia que acontece .
Ao entrar em contato com Rodrigo, logo veio o convite que fecharia todo o motivo do mistério: compor a trilha sonora do documentário de 35 anos da ordenação da Monja Coen. Como praticante do zazen e já tendo assistido palestras da Monja na comunidade Soto Zen, localizado no bairro do Pacaembu, uma imensa alegria invadiu meu ser, entendendo todo objetivo da prática pela prática!
Deixo aqui está história recheada de sorte por todos os lados e o link do doc para apreciar o lindo trabalho de todos envolvidos que vem do Dharma e alegra o Karma.

Playlist

 

Meu programa sobre trilhas de bike, “Dois Palitos”.